sexta-feira, 25 de junho de 2010

A música que fazia o mundo parar *

Faço parte da geração que parava com o mundo inteiro para ver Michael Jackson na tela da televisão. A primeira vez foi quando ele apresentou “Billie Jean” na comemoração de 25 anos da gravadora Motown, em 1983. Usando chapéu, calça, casaco e sapatos pretos, luva e meias brancas brilhantes – apenas um de seus inúmeros visuais inconfundíveis –, o cantor tornou famoso naquela ocasião o chamado “moonwalk”, aquele passo de dança que o fazia deslizar para trás, e que ninguém fazia como ele. Foi a imagem daquela semana e marcou apenas o início da grande histeria que o acompanharia por vários anos seguintes.

O mundo também parava para ver as estreias dos videoclipes de Michael Jackson. Até então essas peças publicitárias musicais tinham a duração exata da canção escolhida para ser promovida. Mas ele transformou-as em curtas-metragens superproduzidos.

O primeiro deles foi “Thriller” (1983), com o pesadelo macabro da personagem vivida pela modelo Ola Ray e a inesquecível dança com zumbis recém-saídos de suas covas. Jackson convocou para a direção o cineasta John Landis para repetir no clipe os efeitos especiais usados no longa de 1981 “Um Lobisomem Americano em Londres”. Até hoje é citado em listas de melhores videoclipes de todos os tempos em primeiro lugar.

Os vídeos para as canções “Billie Jean”, “Beat It” e “Thriller” exibiram, além da boa música de Michael Jackson, seu carisma, sua dança e seu estilo, e iriam coroá-lo logo, logo como “Rei do Pop”, além de tornar “Thriller” o álbum mais vendido de todos os tempos, até hoje: mais de 100 milhões de cópias.

E o mundo voltou a parar para vê-lo sob a direção de outro cineasta de renome (Martin Scorsese) em “Bad” (1987), o triunfo do bom mocismo no meio de um ambiente barra pesada. Outro videoclipe bem produzido, com ares de curta-metragem e mais uma coreografia clássica.

A partir do ano seguinte, Michael Jackson parecia que não ia mais parar de voltar as atenções do mundo para si. Percorreu o “mundo” a bordo da turnê também intitulada “Bad”. Foi o auge da histeria de fãs que gritaram, desmaiaram e o coroaram como um fenômeno semelhante apenas a Elvis Presley e The Beatles.

Os intervalos entre o lançamento de um disco e outro na carreira de Michael Jackson eram de anos. Nesse tempo, o astro continuava despertando a atenção de todos, porém, não por aspectos musicais – os mais interessantes na carreira de qualquer artista de relevância –, mas pelo que aos poucos foi considerado estranho e bizarro aos olhos do mesmo mundo que parava para admirar a sua magia artística. Eram supostos namoros (Brooke Shields), a substituição do afeto humano pelo de animais como um chimpanzé de estimação e uma aura infantil da criança que ele não pôde ser graças ao empenho do pai em lançar os Jackson 5, no fim dos anos 60. Sem falar, claro, na transformação física cujos motivos reais nunca foram explicados ao público satisfatoriamente pelo cantor.

No meio desse turbilhão de excentricidades, Michael Jackson voltava a parar o mundo com sua música e dança. E milhões de olhos se voltaram, mais uma vez, para as estreias de curtas como o polêmico “Black Or White” e “Remember The Time”, ambos apoiando hits incluídos em “Dangerous” (1991).

No ano seguinte, o início de outra turnê temperada por mais gritos e desmaios em seu rastro. Até que, em 1993, Jackson interrompeu a série de shows, que inclusive o trouxe ao Brasil. E o mundo aos poucos foi parando de esperar para ver videoclipes, ouvir música pop das melhores e se encantar com coreografias que já nasciam clássicas. Toda a produção musical que veio após essa época não igualou o sucesso de público, nem de crítica dos anos anteriores. E a força do melhor pop foi enfraquecendo.

Em meio a tributos e revivals da arte ainda não esquecida do “Rei”, públicos ansiosos por música popular coroaram novos príncipes e princesas. Nasciam justins, rihannas, britneys... todos temperados com influências musicais e cênicas de Michael Jackson. Mas nenhum deles com aquele talento inigualável para compor, produzir, arranjar, dançar e ser tão grande como foi o “Rei do Pop”.


Desde aquele fim de carreira decretado por muitos em 2005 eu também pouco acreditava que o pop de Michael Jackson voltaria a reinar ao lado do pop de Madonna, sua única rival na música dos últimos anos. Nem mesmo em meio ao cenário habitado pelos pequenos astros citados acima. Mas, não dizem por aí que enquanto há vida, há esperança? Pois é, lá no fundo eu tinha a minha de voltar a parar com o mundo inteiro para admirar a arte de Michael Jackson.

* Texto escrito por mim e publicado no caderno “Plateia” (jornal Amazonas Em Tempo – Manaus, 28 de junho de 2009). Esta versão reproduzida no blog possui algumas sutis alterações.

E concordo com o Régis Tadeu (http://colunistas.yahoo.net/posts/2610.html): a melhor maneira de relembrar um artista como Michael Jackson é colocar para tocar aquele disco dele que você mais gosta. Então, escolha um e aperte play!

Michael Jackson 29.08.1958-25.06.2009

segunda-feira, 14 de junho de 2010

“A Verdade Nua e Crua” (2009)

Na guerra dos sexos travada entre Abby Richter e Mike Chadway, na comédia “A Verdade Nua e Crua”, os dois personagens terminam empatados. Mas, no confronto de carisma e timing para a comédia, o bochechudo Gerard Butler se sai melhor do que Katherine Heigl.

Já vi Heigl no bonzinho “Vestida para Casar” (2008) e no lamentável “Ligeiramente Grávidos” (2006). E com “A Verdade Nua e Crua” continuo achando que a moça ainda é melhor na telinha, no seriado “Grey’s Anatomy”. Há toda uma forçada de barra para que ela emplaque no cinema, mais especificamente em comédias românticas, mas falta muito ainda para que ela brilhe nesse gênero como Julia Roberts e Jennifer Lopez, por exemplo.

O diretor do filme é Robert Luketic, o mesmo de “A Sogra” (2005). O humor nesses dois longas não é escrachado e a baixaria é bem dosada, assim como o conteúdo, digamos, mais sério das tramas.

Abby Richter é a produtora de um programa de TV sem audiência. Suas relações com o sexo oposto também não têm tido muito sucesso. Mike Chadway conduz um programa no qual apresenta “A Verdade Nua e Crua” sobre os relacionamentos entre homens e mulheres. E da maneira mais cafajeste possível!

O chefe de Abby contrata Mike para melhorar a audiência da atração. O resultado é bom, mas ela não gosta nem do tom do programa, nem de Mike. O apresentador descobre que Abby está interessada num vizinho e se oferece para ajudá-la na conquista – usando, claro, os seus métodos, que a produtora detesta. Fazem, então, um acordo: se os conselhos derem certo, ela terá que deixar de persegui-lo na emissora e passará a produzir seu quadro.

Abby topa o acordo. E Mike fica surpreso ao perceber o quanto seus conselhos machistas acabam sendo positivos para o namoro de Abby – que aos poucos acaba deixando de ser ela mesma.

Gerard Butler se sai muito bem com suas caras e bocas – tanto para fazer rir, quanto para nos deixar intrigados com o verdadeiro eu de Mike. E Katherine Heigl poderia parar de simplesmente abrir o sorriso como se estivesse num comercial de cosméticos e tentar ser uma presença realmente divertida em suas cenas, especialmente naquelas em que ela tem que usar mais o corpo para (tentar) fazer rir. Afinal, sua sequência de cabeça para baixo na árvore é apenas ok. E o orgasmo pra valer de Abby com a calcinha vibratória nem de longe supera o orgasmo fingido da Sally de Meg Ryan.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Ivânia Catarina

A primeira vez que vi e ouvi Ivânia Catarina e seu fiel violonista Carlos Gomes foi em 2000, durante a cobertura do Festival da Canção de Itacoatiara (Fecani). “Grata Visão”, escrita por ele e interpretada por ela, foi a música vencedora daquele ano. Merecidamente.

Desde então, nunca mais esqueci os versos dessa canção. Em 2004, recebi, na redação de um jornal, uma ligação de Ivânia Catarina, que estava divulgando seu primeiro CD solo. Imediatamente perguntei se ela havia gravado a composição vencedora do festival. Disse que não, e ficou espantada com minha lembrança dessa música. “Você deve ter ouvido ‘Grata Visão’ uma ou duas vezes”. E era mesmo verdade.

Ivânia acabou enviando para mim uma cópia do seu disco para que fizesse um comentário e, gentilmente, num CD à parte, um registro de “Grata Visão”. Nem preciso dizer que adorei e ouço até hoje.

Mais a respeito da mineira Ivânia Catarina está no site dela (www.ivaniacatarina.com.br).

Sobre o seu primeiro CD solo, eis aqui três motivos para ouvi-lo: “Lágrima” (Carlos Gomes), “Qui Nem Giló” (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) e “Contra o Tempo” (Vander Lee, seu irmão, com quem ela divide os vocais nessa faixa). Mas no seu disco existem outros oito registros, igualmente inspirados, de uma bela voz, cheia de melodia, lirismo e compromisso com a arte.

*

“Se voar, voe
Ache o que o mundo tem de melhor
Se não achar, conte até três
Corrija os erros, tente outra vez

Se voar, voe
Não se espante quando der com o céu
Que não tem fim
Como o amor por ti que guardo em mim”

(“Grata Visão”, Carlos Gomes)

domingo, 6 de junho de 2010

"Strike-a-pose"

“Vogue”, composição de Madonna e do produtor/compositor/DJ Shep Pettibone, é uma das poucas do repertório da cantora que nunca sofre em suas performances ao vivo. Ela – ou quem quer que dê as sugestões – nunca erra visualmente, nem musicalmente ao interpretá-la.

Hoje, meu assessor de inutilidades, o Mundiça, me lembrou dos 20 anos desse single – completados em 20 de março, mais especificamente. Antes de comentar sobre “Vogue” é impossível não lembrar que, em 1990, Madonna ainda era uma artista transgressora – sinceramente ou não. Apresentou a turnê “Blond Ambition” (a melhor de todas, não teimem comigo), gravou o disco “I’m Breathless – Music From And Inspired By The Film Dick Tracy” (se pecava no caráter comercial, era bem-vindo do ponto de vista da ousadia), dava entrevistas com ares de diva hollywoodiana e ainda investia pesado na produção de videoclipes. Uma prova? “Vogue”, é claro.

O produtor e compositor Tony Shimkin já disse que Madonna compôs o célebre rap da canção (“Greta Garbo and Monroe/Dietrich and DiMaggio/Marlon Brando, Jimmy Dean/On the cover of a magazine”) durante um voo de Los Angeles para Nova York.

Dizem que a faixa, originalmente, seria lançada como lado B do single de “Keep It Together”, o último para promover o álbum “Like A Prayer” (1989). Ou seja, seria para encher linguiça, mas alguém viu que a música realmente poderia ser um hit. Então, foi gravada como single e incluída em “I’m Breathless” – ofuscando, claro, todas as outras composições jazzísticas feitas para o filme “Dick Tracy”, no qual Madonna vive o papel de uma cantora de cabaré.

“Vogue” é inspirada numa dança criada por gays da cena underground nova-iorquina que imitavam poses de astros e estrelas de Hollywood e de modelos da revista de moda de mesmo nome. Shep Pettibone buscou boa parte para a base da música num remix feito por ele para “Miss You Much” (1989), de Janet Jackson. Cantada de modo arrogante, a canção é um chamado para dançar que funciona até hoje. Sempre é um dos melhores números dos espetáculos onde é incluída: temperada com dança hindu no “Girlie Show” (1993), passando pela corte francesa decadente da “Re-Invention Tour” (2004) até o mash-up com “4 Minutes” e “Give It To Me” da “Sticky & Sweet Tour” (2008/09) – sem esquecer da encarnação de Maria Antonieta no MTV Video Music Awards, em setembro de 1990 (é a foto que ilustra o post, tirada por Herb Ritts).

O pop/dance/house/eletrônico de “Vogue”, para mim, é a segunda melhor música já gravada por Madonna (a primeira é “Express Yourself”, de 1989). Veja o clipe dirigido por David Fincher e ouça a faixa em seu formato original, já que ela dispensa remixes.