sexta-feira, 18 de maio de 2012

Donna Summer (1948-2012)


Ouço Donna Summer desde os meus 5 ou 6 anos de idade. Desde que ganhei de presente de minha mãe “A Love Trilogy”, o segundo álbum da Rainha da Discoteca, lançado em 1976. Foi o meu primeiro LP, e o primeiro de vários da artista que coloco até hoje para tocar. Talvez por conta dessa memória afetiva eu tenha ficado com um nó na garganta ao saber, pela TV, da morte de Donna Summer, ontem, aos 63 anos, de câncer no pulmão.

Muito antes de “Justify My Love”, mais precisamente em 1975, Donna Summer já gemia, sussurrava e simulava orgasmos em “Love To Love You Baby”, ao longo de mais de 16 minutos. Dois anos depois gravou “I Feel Love”, cuja base eletrônica até hoje soa moderna, e no álbum “Bad Girls” (1979) inovou ao temperar a disco music com rock, vide o solo de guitarra em “Hot Stuff”. Outros hits indispensáveis de sua carreira foram “Last Dance”, “Dim All The Lights” e “MacArthur Park”. Sem esquecer, é claro, de suas parcerias com o produtor Giorgio Moroder em “Heaven Knows”, “Our Love”, “I Love You” e muitas outras.

Nos anos 80, Donna Summer continuou a lançar discos de sucesso como “She Works Hard For The Money” (1983) e “Another Place and Time” (1989), sempre recheados de hits para as pistas. Na década seguinte, a produção de músicas inéditas diminuiu, dando lugar a coletâneas com uma ou duas faixas novas, mas ainda assim brilhou em sucessos como “Melody Of Love (Wanna Be Loved)” e a bela versão para “Con Te Partiró”.

Vi Donna Summer de perto no show que ela apresentou em Manaus, no dia 10 de junho de 1995, para promover a coletânea “Endless Summer” (1994). “Could It Be Magic”, “This Time I Know It’s For Real”, “Summer Fever” e “Don’t Cry For Me Argentina” foram algumas das composições que formaram o repertório daquela noite. Nunca esqueço do sorriso dela ao cumprimentar o público, logo no início da apresentação, e, em seguida, bem-humorada, ajeitar o tomara-que-caia.

O último CD de Donna Summer, “Crayons”, saiu em 2008, incluindo o single “I’m A Fire”. Não fez o sucesso de discos anteriores, mas quem a conheceu em seu auge sabe que a discreta coroa flutuando sobre seu nome na capa do álbum não está ali à toa. Sua voz, seu talento e sua arte de Rainha serão lembrados eternamente.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

“Chico Xavier” (2010)

“Chico Xavier”, de Daniel Filho, é um bom filme sobre a vida do médium mineiro. Mas termina sendo mesmo é um estímulo para ler a biografia “As Muitas Vidas de Chico Xavier”, de Marcel Souto Maior (base para o roteiro), e conferir as duas entrevistas que Chico concedeu ao programa “Pinga-Fogo”, da TV Tupi, em 1971 (reconstituídas no filme para lembrar momentos da vida do personagem), seja no DVD duplo da Versátil Home Video ou no livro organizado por Saulo Gomes (editora InterVidas).

Muito se falou sobre a caracterização de Nelson Xavier como o médium na vida adulta, mas o mérito do ator começa e acaba aí mesmo. Ângelo Antônio, que vive o Chico Xavier jovem, recheia melhor sua atuação com a doçura dos gestos e fala do médium, morto em 2002 aos 92 anos.

E o maior pecado aqui são os ares de “Caso Verdade” que o longa adquire com a inclusão do drama de um casal (vivido por Tony Ramos e pela sempre horrenda Christiane Torloni) que perdeu o filho tragicamente. Entra em cena a questão do uso de uma mensagem psicografada como prova para uma decisão judicial. Uma trama paralela dispensável.

domingo, 25 de julho de 2010

“Aphrodite” (2010)

Kylie Minogue costuma alternar sua discografia com álbuns voltados para aquele pop fácil que a tornou conhecida a partir de 1988 com outros de repertório para tocar em qualquer lugar, menos em rádio. Desta última safra, o último foi “X” (2007). E o novo CD, “Aphrodite” é o pop da vez.

Quem estava com saudades da Kylie de “I Should Be So Lucky” e “Got To Be Certain” gostará de ouvir boa parte de “Aphrodite” sem parar – e quem detesta a primeira fase da cantora vai passar longe. A produção executiva é assinada por Stuart Price, o homem por trás de “Confessions On a Dance Floor” (2005), de Madonna. Só não vale pensar que ele se superou.

A palavra de ordem aqui – assim como em boa parte da discografia da australiana – é dançar ao som de músicas com refrões fáceis. É aquilo, enquanto tem cantora querendo tornar o pop algo sério (pra quê?), Kylie se diverte e diverte os fãs com muita euro dance e nada de baladas.

“Everything Is Beautiful”, “All The Lovers”, “Cupid Boy”, “Go Hard Or Go Home” (esta uma faixa bônus) e “Get Outta My Way” são as melhores razões para curtir o CD – e talvez as únicas para deixá-lo tocar daqui a uns anos. “Put Your Hands Up (If You Feel Love)” também não faz feio, pelo menos não tanto quanto a ruinzinha faixa-título.

Não é o melhor disco – nem a capa! – de Kylie. Mas o que passa batido no CD pode ser superado no palco. Portanto, caia na estrada, Aphrodite!

terça-feira, 6 de julho de 2010

“Bionic” (2010)

Acho que Christina Aguilera gravou “Bionic” para mostrar a todos de onde vem a voz de Lady Gaga (risos).

Quando ainda infernizava os ouvidos com “Genie in a Bottle” e “What a Girl Wants”, Christina Aguilera foi chamada pela revista “Vanity Fair” de a única estrela pop teen que sabia cantar – e com razão. Realmente, Aguilera canta mesmo. Mas até aqui, seu repertório nunca me comoveu – e os ares de piranha em “Dirrty” e de diva de cabaré em “Ain’t No Other Man” sempre me pareceram forçados, coisa de quem quer logo parecer “artista madura” – e as músicas soavam apenas como desculpas frouxas para abrir o berreiro.


Comprei o CD “Bionic” estimulado pelo videoclipe de “Not Myself Tonight”. Enquanto uns pensavam, “Oh! Ela está citando Madonna e imitando Gaga”, eu pensei, “Finalmente parece que ela vai enveredar por um pop eletrônico mais inspirado para as pistas”. Música para dançar rima com vozeirão. E se não estou enganado tem faltado vozeirões de verdade nas rádios, pistas, clipes...


Ouça “Not Myself Tonight”, a tecno-oitentista “Elastic Love”, a cafona de doer (porém eficiente) “Desnudate”, pule as babaladas, exceto “Lift Me Up”, “All I Need” e “You Lost Me”, e se jogue nas duas que encerram o CD, “My Girls” e “Vanity”.


“Bionic”
não é nenhuma obra-prima, porém, traz o melhor repertório que Aguilera já interpretou até aqui. E se ela está apenas aproveitando o momento pop que domina a música atualmente, pelo menos é com um pop que soa melhor do que o de ke$has, biebers e irritantes afins.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

A música que fazia o mundo parar *

Faço parte da geração que parava com o mundo inteiro para ver Michael Jackson na tela da televisão. A primeira vez foi quando ele apresentou “Billie Jean” na comemoração de 25 anos da gravadora Motown, em 1983. Usando chapéu, calça, casaco e sapatos pretos, luva e meias brancas brilhantes – apenas um de seus inúmeros visuais inconfundíveis –, o cantor tornou famoso naquela ocasião o chamado “moonwalk”, aquele passo de dança que o fazia deslizar para trás, e que ninguém fazia como ele. Foi a imagem daquela semana e marcou apenas o início da grande histeria que o acompanharia por vários anos seguintes.

O mundo também parava para ver as estreias dos videoclipes de Michael Jackson. Até então essas peças publicitárias musicais tinham a duração exata da canção escolhida para ser promovida. Mas ele transformou-as em curtas-metragens superproduzidos.

O primeiro deles foi “Thriller” (1983), com o pesadelo macabro da personagem vivida pela modelo Ola Ray e a inesquecível dança com zumbis recém-saídos de suas covas. Jackson convocou para a direção o cineasta John Landis para repetir no clipe os efeitos especiais usados no longa de 1981 “Um Lobisomem Americano em Londres”. Até hoje é citado em listas de melhores videoclipes de todos os tempos em primeiro lugar.

Os vídeos para as canções “Billie Jean”, “Beat It” e “Thriller” exibiram, além da boa música de Michael Jackson, seu carisma, sua dança e seu estilo, e iriam coroá-lo logo, logo como “Rei do Pop”, além de tornar “Thriller” o álbum mais vendido de todos os tempos, até hoje: mais de 100 milhões de cópias.

E o mundo voltou a parar para vê-lo sob a direção de outro cineasta de renome (Martin Scorsese) em “Bad” (1987), o triunfo do bom mocismo no meio de um ambiente barra pesada. Outro videoclipe bem produzido, com ares de curta-metragem e mais uma coreografia clássica.

A partir do ano seguinte, Michael Jackson parecia que não ia mais parar de voltar as atenções do mundo para si. Percorreu o “mundo” a bordo da turnê também intitulada “Bad”. Foi o auge da histeria de fãs que gritaram, desmaiaram e o coroaram como um fenômeno semelhante apenas a Elvis Presley e The Beatles.

Os intervalos entre o lançamento de um disco e outro na carreira de Michael Jackson eram de anos. Nesse tempo, o astro continuava despertando a atenção de todos, porém, não por aspectos musicais – os mais interessantes na carreira de qualquer artista de relevância –, mas pelo que aos poucos foi considerado estranho e bizarro aos olhos do mesmo mundo que parava para admirar a sua magia artística. Eram supostos namoros (Brooke Shields), a substituição do afeto humano pelo de animais como um chimpanzé de estimação e uma aura infantil da criança que ele não pôde ser graças ao empenho do pai em lançar os Jackson 5, no fim dos anos 60. Sem falar, claro, na transformação física cujos motivos reais nunca foram explicados ao público satisfatoriamente pelo cantor.

No meio desse turbilhão de excentricidades, Michael Jackson voltava a parar o mundo com sua música e dança. E milhões de olhos se voltaram, mais uma vez, para as estreias de curtas como o polêmico “Black Or White” e “Remember The Time”, ambos apoiando hits incluídos em “Dangerous” (1991).

No ano seguinte, o início de outra turnê temperada por mais gritos e desmaios em seu rastro. Até que, em 1993, Jackson interrompeu a série de shows, que inclusive o trouxe ao Brasil. E o mundo aos poucos foi parando de esperar para ver videoclipes, ouvir música pop das melhores e se encantar com coreografias que já nasciam clássicas. Toda a produção musical que veio após essa época não igualou o sucesso de público, nem de crítica dos anos anteriores. E a força do melhor pop foi enfraquecendo.

Em meio a tributos e revivals da arte ainda não esquecida do “Rei”, públicos ansiosos por música popular coroaram novos príncipes e princesas. Nasciam justins, rihannas, britneys... todos temperados com influências musicais e cênicas de Michael Jackson. Mas nenhum deles com aquele talento inigualável para compor, produzir, arranjar, dançar e ser tão grande como foi o “Rei do Pop”.


Desde aquele fim de carreira decretado por muitos em 2005 eu também pouco acreditava que o pop de Michael Jackson voltaria a reinar ao lado do pop de Madonna, sua única rival na música dos últimos anos. Nem mesmo em meio ao cenário habitado pelos pequenos astros citados acima. Mas, não dizem por aí que enquanto há vida, há esperança? Pois é, lá no fundo eu tinha a minha de voltar a parar com o mundo inteiro para admirar a arte de Michael Jackson.

* Texto escrito por mim e publicado no caderno “Plateia” (jornal Amazonas Em Tempo – Manaus, 28 de junho de 2009). Esta versão reproduzida no blog possui algumas sutis alterações.

E concordo com o Régis Tadeu (http://colunistas.yahoo.net/posts/2610.html): a melhor maneira de relembrar um artista como Michael Jackson é colocar para tocar aquele disco dele que você mais gosta. Então, escolha um e aperte play!

Michael Jackson 29.08.1958-25.06.2009

segunda-feira, 14 de junho de 2010

“A Verdade Nua e Crua” (2009)

Na guerra dos sexos travada entre Abby Richter e Mike Chadway, na comédia “A Verdade Nua e Crua”, os dois personagens terminam empatados. Mas, no confronto de carisma e timing para a comédia, o bochechudo Gerard Butler se sai melhor do que Katherine Heigl.

Já vi Heigl no bonzinho “Vestida para Casar” (2008) e no lamentável “Ligeiramente Grávidos” (2006). E com “A Verdade Nua e Crua” continuo achando que a moça ainda é melhor na telinha, no seriado “Grey’s Anatomy”. Há toda uma forçada de barra para que ela emplaque no cinema, mais especificamente em comédias românticas, mas falta muito ainda para que ela brilhe nesse gênero como Julia Roberts e Jennifer Lopez, por exemplo.

O diretor do filme é Robert Luketic, o mesmo de “A Sogra” (2005). O humor nesses dois longas não é escrachado e a baixaria é bem dosada, assim como o conteúdo, digamos, mais sério das tramas.

Abby Richter é a produtora de um programa de TV sem audiência. Suas relações com o sexo oposto também não têm tido muito sucesso. Mike Chadway conduz um programa no qual apresenta “A Verdade Nua e Crua” sobre os relacionamentos entre homens e mulheres. E da maneira mais cafajeste possível!

O chefe de Abby contrata Mike para melhorar a audiência da atração. O resultado é bom, mas ela não gosta nem do tom do programa, nem de Mike. O apresentador descobre que Abby está interessada num vizinho e se oferece para ajudá-la na conquista – usando, claro, os seus métodos, que a produtora detesta. Fazem, então, um acordo: se os conselhos derem certo, ela terá que deixar de persegui-lo na emissora e passará a produzir seu quadro.

Abby topa o acordo. E Mike fica surpreso ao perceber o quanto seus conselhos machistas acabam sendo positivos para o namoro de Abby – que aos poucos acaba deixando de ser ela mesma.

Gerard Butler se sai muito bem com suas caras e bocas – tanto para fazer rir, quanto para nos deixar intrigados com o verdadeiro eu de Mike. E Katherine Heigl poderia parar de simplesmente abrir o sorriso como se estivesse num comercial de cosméticos e tentar ser uma presença realmente divertida em suas cenas, especialmente naquelas em que ela tem que usar mais o corpo para (tentar) fazer rir. Afinal, sua sequência de cabeça para baixo na árvore é apenas ok. E o orgasmo pra valer de Abby com a calcinha vibratória nem de longe supera o orgasmo fingido da Sally de Meg Ryan.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Ivânia Catarina

A primeira vez que vi e ouvi Ivânia Catarina e seu fiel violonista Carlos Gomes foi em 2000, durante a cobertura do Festival da Canção de Itacoatiara (Fecani). “Grata Visão”, escrita por ele e interpretada por ela, foi a música vencedora daquele ano. Merecidamente.

Desde então, nunca mais esqueci os versos dessa canção. Em 2004, recebi, na redação de um jornal, uma ligação de Ivânia Catarina, que estava divulgando seu primeiro CD solo. Imediatamente perguntei se ela havia gravado a composição vencedora do festival. Disse que não, e ficou espantada com minha lembrança dessa música. “Você deve ter ouvido ‘Grata Visão’ uma ou duas vezes”. E era mesmo verdade.

Ivânia acabou enviando para mim uma cópia do seu disco para que fizesse um comentário e, gentilmente, num CD à parte, um registro de “Grata Visão”. Nem preciso dizer que adorei e ouço até hoje.

Mais a respeito da mineira Ivânia Catarina está no site dela (www.ivaniacatarina.com.br).

Sobre o seu primeiro CD solo, eis aqui três motivos para ouvi-lo: “Lágrima” (Carlos Gomes), “Qui Nem Giló” (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) e “Contra o Tempo” (Vander Lee, seu irmão, com quem ela divide os vocais nessa faixa). Mas no seu disco existem outros oito registros, igualmente inspirados, de uma bela voz, cheia de melodia, lirismo e compromisso com a arte.

*

“Se voar, voe
Ache o que o mundo tem de melhor
Se não achar, conte até três
Corrija os erros, tente outra vez

Se voar, voe
Não se espante quando der com o céu
Que não tem fim
Como o amor por ti que guardo em mim”

(“Grata Visão”, Carlos Gomes)