Faço parte da geração que parava com o mundo inteiro para ver Michael Jackson na tela da televisão. A primeira vez foi quando ele apresentou “Billie Jean” na comemoração de 25 anos da gravadora Motown, em 1983. Usando chapéu, calça, casaco e sapatos pretos, luva e meias brancas brilhantes – apenas um de seus inúmeros visuais inconfundíveis –, o cantor tornou famoso naquela ocasião o chamado “moonwalk”, aquele passo de dança que o fazia deslizar para trás, e que ninguém fazia como ele. Foi a imagem daquela semana e marcou apenas o início da grande histeria que o acompanharia por vários anos seguintes.O mundo também parava para ver as estreias dos videoclipes de Michael Jackson. Até então essas peças publicitárias musicais tinham a duração exata da canção escolhida para ser promovida. Mas ele transformou-as em curtas-metragens superproduzidos.
O primeiro deles foi “Thriller” (1983), com o pesadelo macabro da personagem vivida pela modelo Ola Ray e a inesquecível dança com zumbis recém-saídos de suas covas. Jackson convocou para a direção o cineasta John Landis para repetir no clipe os efeitos especiais usados no longa de 1981 “Um Lobisomem Americano em Londres”. Até hoje é citado em listas de melhores videoclipes de todos os tempos em primeiro lugar.
Os vídeos para as canções “Billie Jean”, “Beat It” e “Thriller” exibiram, além da boa música de Michael Jackson, seu carisma, sua dança e seu estilo, e iriam coroá-lo logo, logo como “Rei do Pop”, além de tornar “Thriller” o álbum mais vendido de todos os tempos, até hoje: mais de 100 milhões de cópias.
E o mundo voltou a parar para vê-lo sob a direção de outro cineasta de renome (Martin Scorsese) em “Bad” (1987), o triunfo do bom mocismo no meio de um ambiente barra pesada. Outro videoclipe bem produzido, com ares de curta-metragem e mais uma coreografia clássica.
A partir do ano seguinte, Michael Jackson parecia que não ia mais parar de voltar as atenções do mundo para si. Percorreu o “mundo” a bordo da turnê também intitulada “Bad”. Foi o auge da histeria de fãs que gritaram, desmaiaram e o coroaram como um fenômeno semelhante apenas a Elvis Presley e The Beatles.
Os intervalos entre o lançamento de um disco e outro na carreira de Michael Jackson eram de anos. Nesse tempo, o astro continuava despertando a atenção de todos, porém, não por aspectos musicais – os mais interessantes na carreira de qualquer artista de relevância –, mas pelo que aos poucos foi considerado estranho e bizarro aos olhos do mesmo mundo que parava para admirar a sua magia artística. Eram supostos namoros (Brooke Shields), a substituição do afeto humano pelo de animais como um chimpanzé de estimação e uma aura infantil da criança que ele não pôde ser graças ao empenho do pai em lançar os Jackson 5, no fim dos anos 60. Sem falar, claro, na transformação física cujos motivos reais nunca foram explicados ao público satisfatoriamente pelo cantor.
No meio desse turbilhão de excentricidades, Michael Jackson voltava a parar o mundo com sua música e dança. E milhões de olhos se voltaram, mais uma vez, para as estreias de curtas como o polêmico “Black Or White” e “Remember The Time”, ambos apoiando hits incluídos em “Dangerous” (1991).
No ano seguinte, o início de outra turnê temperada por mais gritos e desmaios em seu rastro. Até que, em 1993, Jackson interrompeu a série de shows, que inclusive o trouxe ao Brasil. E o mundo aos poucos foi parando de esperar para ver videoclipes, ouvir música pop das melhores e se encantar com coreografias que já nasciam clássicas. Toda a produção musical que veio após essa época não igualou o sucesso de público, nem de crítica dos anos anteriores. E a força do melhor pop foi enfraquecendo.
Em meio a tributos e revivals da arte ainda não esquecida do “Rei”, públicos ansiosos por música popular coroaram novos príncipes e princesas. Nasciam justins, rihannas, britneys... todos temperados com influências musicais e cênicas de Michael Jackson. Mas nenhum deles com aquele talento inigualável para compor, produzir, arranjar, dançar e ser tão grande como foi o “Rei do Pop”.
Desde aquele fim de carreira decretado por muitos em 2005 eu também pouco acreditava que o pop de Michael Jackson voltaria a reinar ao lado do pop de Madonna, sua única rival na música dos últimos anos. Nem mesmo em meio ao cenário habitado pelos pequenos astros citados acima. Mas, não dizem por aí que enquanto há vida, há esperança? Pois é, lá no fundo eu tinha a minha de voltar a parar com o mundo inteiro para admirar a arte de Michael Jackson.
* Texto escrito por mim e publicado no caderno “Plateia” (jornal Amazonas Em Tempo – Manaus, 28 de junho de 2009). Esta versão reproduzida no blog possui algumas sutis alterações.
E concordo com o Régis Tadeu (http://colunistas.yahoo.net/posts/2610.html): a melhor maneira de relembrar um artista como Michael Jackson é colocar para tocar aquele disco dele que você mais gosta. Então, escolha um e aperte play!
Michael Jackson 29.08.1958-25.06.2009